Uma Cabana na Floresta
- Planta de Situação
- Fachada Leste
- Fachada Norte / Corte C-C
- Planta Baixa Subsolo
- Planta Baixa - 1º Pavimento
- Planta Baixa - 2º Pavimento
- Cobertura
- Perspectiva Sentimento
- Corte A-A
- Corte B-B
Idéia axial do projeto
Cabana/camarote com cozinha, banheiros etc. - abrigo quentinho, com conforto para asceta, que permita grande intimidade, proximidade, com a bela natureza local. Daí, que sejam utilizados todos os recursos para minimizar a agressão inerente a qualquer intervenção.
Essa ideia de projeto-suporte-para-usufruir-as-dádivas-naturais se estende pelo terreno. Aí enfatiza a vocação para anfiteatro da margem direita do córrego, íngreme, como “arquibancada” para a floresta em frente. Mas também, com esse escalonamento estratégico do terreno, as águas pluviais são absorvidas pelo solo e, assim, os acessos nas bases de declives estão protegidos: acessos liberados das torrentes!
Proposta formal
É reverenciar, obedecer, mimetizar o entorno sem altivez. É responder a cada invocação local, atender e usufruir o peculiar; é deixar fluir o que flui.
Características do terreno e implantação
Localizado a 900 metros de altitude, no perímetro urbano do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, o terreno com 730 m2 é muito acidentado: composto por um pequeno vale às margens de um córrego, que o divide ao meio. O nível do solo à sua esquerda (norte) é mais alto, em média, 1.8 m que o da direita (sul). Esta margem esquerda e a reserva florestal, que faz divisa ao fundo, são de Mata Atlântica secundária em regeneração e foram mantidas intactas. A margem direita (sul), já encontrada degradada - pelo início de construção abandonada de uma rua no terreno vizinho - foi escolhida para a implantação da edificação.
Exigências programáticas e soluções do projeto: mais um exercício arquitetônico de conciliar paradoxo
1) Construir preservando! Da proposta do projeto: Preservar e tirar partido das características naturais do terreno induz à edificação vertical, parcialmente suspensa devido às muitas águas do solo e seguindo o relevo - tudo para minimizar a ocupação, se submeter à escala e aos meandros do local.
Sistema construtivo: A etapa devastadora do sistema de fundações em concreto armado e a dois metros do leito do córrego, deu o tom da conscientização exigida pela proposta do projeto. O córrego ficou intacto. Na segunda etapa, já acima da laje, foi adotado um sistema construtivo tradicional, ainda mantido por algumas populações rurais, em que é montada toda a estrutura em madeira, até a finalização do telhado. Só então ocorre o fechamento. Uma das qualidades desse sistema é ser transportável, isto é, permite a remontagem estrutural da edificação em outro lugar. Mas na verdade foi adotado por estabelecer uma obra limpa, com melhor controle do entorno e permitir – para deleite experimental – viver o espaço arquitetônico de forma diversa!
2) Uma casa sem frente e sem fundos! Assim cada peça deve ter, e tem, virtude máxima; cada uma é a seu modo a frente da casa.
3) Espaço integrado com possibilidade de abrigar quatro duplas de pessoas com privacidade! Ou das quatro peças independentes, três se comunicam de forma ampla a ponto de se unificar com a casa, se for o caso!
4) Umidade sem mofo! Dada a presença da floresta, a umidade local é tanta que o sal vira água. No entanto a casa é cheirosa sempre, mesmo depois de seis meses ou um ano trancada. Isto porque, até no subsolo, ela respira! Há um sistema natural e permanente de ventilação que não compromete a sua temperatura interna.
5) Floresta gelada e casa quentinha! Uma grande lareira central está disponível! E outros recursos utilizados, como isolante térmico no telhado e pé direito muito baixo, são os responsáveis constantes pelo aconchego e conforto ambiental do interior da cabana, no frio. Já nos dias quentes de verão, a simples proximidade da floresta garante um grande frescor à sombra. E devido ao amplo sistema de aberturas, a casa pode ser ventilada por completo. Aí, nuvens podem atravessar a casa! ...e dá para ver!
6) Não dependência de máquinas elétricas para o conforto da casa. Ventilação, aquecimento/esfriamento do ar e alimentação de água são produzidos por mecanismos naturais.
7) Embora com três andares, todos estão ao rés-do-chão! - quer dizer, ao nível do solo e a ele têm acesso.
8) Ambiente asceta e afrodisíaco! pela mesma razão do contato direto com as forças primárias da natureza.
9) O projeto foi concebido como um objeto topológico: a casa é tórica, para um topólogo!
Material Utilizado
Fundações e laje do primeiro pavimento em concreto armado. As demais estruturas e assoalho são de Maçaranduba e Ipê adquiridos em demolição ou no mercado local. Paredes de tijolos de adobe de demolição de uma igreja próxima.
E, repondo em parte o extraído, foram plantados no terreno 12 pés de Ipê.
Informações do projeto
Projeto arquitetônico e paisagístico e construção:
Eliane Maria Soares Gomes
Fundações e construção:
Eng. Norival José da Costa
Obra executada em duas fases:
1986 (fundações, em 3 meses) e 1988 (em 5 anos).
Carpinteiro, pedreiro, ladrilheiro:
Roberto Alves da Silva
Data de conclusão: 1993
Fotos:
Eliane Maria Soares Gomes